Botão “curtir” do Facebook, serviço de e-mail do Google e post-its da 3M: você sabe o que essas três soluções têm em comum? Todas elas surgiram a partir de iniciativas de intraempreendedorismo dentro das empresas. Ou seja, foram idealizadas por colaboradores que, ao serem devidamente incentivados pela liderança, conseguiram impactar o desenvolvimento de soluções e produtos com retorno considerável para os lucros do empreendimento.
Em primeiro lugar, apesar de criado há mais de 30 anos, esse conceito de aproveitar os talentos da própria organização para encontrar oportunidades de inovar segue sendo adotado por cada vez mais negócios. E a liderança possui um papel essencial nessa história de desenvolver em seus liderados a vontade de empreender dentro da empresa. A seguir, confira um conteúdo completo sobre este assunto tão importante para os contextos que vivemos atualmente.
Veja também: Estratégias para estimular intraempreendedorismo nas organizações.
O novo papel da liderança
Foi-se o tempo em que o gestor era o profissional responsável apenas por coordenar o trabalho das equipes e reportá-lo para os superiores, garantindo que as metas estejam sendo batidas, e os resultados, conquistados.
Atualmente, mais do que gerir as demandas de um time, o líder tem como principal papel o desenvolvimento de pessoas. Isso significa que esses profissionais são responsáveis por criar contextos favoráveis para que os colaboradores possam evoluir suas capacidades técnicas e emocionais, o que impacta diretamente nos resultados da organização.
Essa nova atribuição da liderança já era, inclusive, vislumbrada por Bill Gates quando ele afirmou:
“Ao olhar para o próximo século, os líderes serão aqueles que capacitam as pessoas.”
Gerar desafios que tirem da zona de conforto, mas também respeitem os limites de cada um; ser um exemplo das atitudes esperadas; motivar a partir dos recursos certos; entender as dificuldades e se mostrar disposto(a) a ajudar; e reconhecer os pontos fortes a partir de feedbacks constantes são algumas das ferramentas que utilizamos nessa missão.
Para além de explorar novas formas de ajudar o outro a crescer profissionalmente, é igualmente interessante que o gestor busque se habilitar em algumas skills que consigam dar suporte para essas iniciativas. Escuta atenta, humildade, comunicação assertiva, adaptabilidade, empatia, resiliência e capacidade de solução de problemas são apenas algumas que os gerentes precisam almejar.
Isso, claro, sem falar do mindset empreendedor, habilidade essencial que a liderança precisa investir para conseguir imprimir este DNA nas suas equipes. Vamos explorar esse assunto mais profundamente e entender por que ele é tão benéfico para as empresas?
O que significa ter uma mentalidade de empreendedor – e como ela impacta na capacidade inovadora das organizações?
Os psicólogos Pamela S. Mayer, Jennifer A. Hall e Mark H. Davis propuseram esse conceito em 2015. Segundo os profissionais:
“Mindset empreendedor é uma mentalidade que é desenvolvida por pessoas empreendedoras que têm em sua personalidade certas características que os diferenciam daqueles que não são empreendedores.”
Entre os traços principais que esses profissionais possuem, podemos citar:
- Ter um propósito bem definido, tal qual com prazos para conquistas das metas e uma visão clara dos objetivos;
- Busca pelo autodesenvolvimento constante, procurando cursos, aprendendo novas línguas, conhecendo outros lugares e montando um bom networking;
- Comunicação fluida e clara;
- Facilidade de desenvolver um planejamento que seja um guia, mas jamais esteja escrito em pedra;
- Comprometimento com todas as demandas assumidas;
- Esforços orientados para o crescimento;
- Disposição ao risco;
- Proatividade para ir atrás de novas possibilidades.
A partir dessa lista, podemos concluir que, quanto mais colaboradores com essa mentalidade uma organização possui, maiores as chances de nascerem ideias transformadoras e disruptivas. Em outras palavras: quanto mais intraempreendedores um negócio conta, maior a sua capacidade inovadora e de sobrevivência em um mercado bastante competitivo.
Não é sobre reinventar a roda, mas sim ter um olhar atento para como é possível melhorar processos, produtos e, claro, a experiência do cliente. Bem como é sobre ter uma postura ativa, curiosa e questionadora, saindo dos fluxos diários e indo além do que é esperado.
Do mesmo modo, os líderes têm a responsabilidade de mostrar e reforçar constantemente o valor e o reconhecimento das iniciativas, incentivando uma mudança cultural e comportamental que tenha o intraempreendedorismo como grande norteador dentro de suas equipes.
Liderança, intraempreendedorismo e a retenção de talentos
Nesse meio tempo, acredito que tenha ficado claro como o incentivo ao nascimento de intraempreendedores, conduzido pela liderança, possui um impacto considerável nos resultados financeiros de uma empresa. Contudo, as vantagens vão além.
Nos dias de hoje, sobretudo após a pandemia da COVID-19, a maioria das pessoas buscam trabalhar tendo um propósito maior por trás dos seus esforços. Salário e benefícios precisam fazer sentido, mas não são suficientes para reter um talento.
É preciso que as equipes comprem a causa que está sendo defendida pelo negócio onde atuam e se sintam parte de algo maior. Do mesmo modo, é necessário que cada funcionário assuma o compromisso de ser um agente transformador. É imprescindível que todos percebam que suas sugestões são ouvidas e valorizadas.
E o intraempreendedorismo, quando bem trabalhado, permite que tudo isso aconteça. Portanto, esse conceito também é sobre fomentar oportunidades na empresa como uma forma de aumentar o engajamento e diminuir a rotatividade de colaboradores.
Checklist de características que todo intraempreendedor precisa ter
Por fim, vale a pena explorarmos um pouco dos traços que os intraempreendedores possuem e que devem ser monitorados, desenvolvidos e incentivados constantemente pela liderança.
Se for para escolher os cinco principais, seriam eles:
1. Adaptam-se rapidamente às mudanças, uma vez que esses profissionais são capazes de enxergar possibilidades de reinvenção a partir do caos e não se desesperam se precisam mudar de rota;
2. Não possuem medo de errar, já que entendem que a prevenção excessiva contra falhas causa uma estagnação e lembram sempre que inovação pede ação;
3. Não desanimam quando escutam “não”, sabendo que sempre existem novos caminhos para serem testados;
4. Buscam sempre o aprendizado contínuo, aprimorando seus conhecimentos e suas habilidades;
5. Trabalham com autonomia e liberdade para fazer suas ideias acontecerem.
Espero que este artigo tenha contribuído para trazer luz sobre essa pauta tão relevante para organizações de todos os portes.
Por Carla Lima, membro e líder da comunidade InovaDoers.