Por Giordano Miranda, membro da InovaDoers.
Primeiramente, precisamos estabelecer se o papel da I.A será para suporte de um produto ou processo já existente, ou será o principal diferencial do produto.
Como suporte, o foco deverá ser em redução de prazo, simplificar processos, aumento de produtividade e diminuição de custos. Ou seja, uma boa métrica para monitoramento e comparar o antes e depois da I.A para saber se está sendo efetivo.
Porém, produtos onde a I.A é o diferencial do negócio, os resultados esperados são novos insights, novas fontes de receita e até explorar novos mercados. Por exemplo, no caso de reconhecimento facial para acesso de software ou instalações e de monitoramento de ativos para contagem de grande volume de peças. Percepção de avarias que não seriam possíveis sem o uso da I.A.
Em seguida, definido esta etapa, é hora de estabelecer se o produto de I.A produzirá valor transversal em várias áreas da empresa ou apenas na área aplicada.
Como começar
Se na organização não há históricos de implantação de I.A bem-sucedidos, é recomendável aplicar em uma área e, posteriormente, ir replicando para outros segmentos.
- 1° passo: Entender como I.A pode contribuir para a missão, os valores e os objetivos da organização. Precisamos definir quais são os problemas que a I.A pode resolver, quais são as oportunidades e os resultados esperados.
- 2° passo: Identificar quais são as lacunas e os desafios que precisamos superar. Desafios que vão desde integrações com banco de dados e data lakes diversos, até a busca de pessoas qualificadas para treinar o modelo.
- 3° passo: Selecionar os projetos de I.A que tenham maior potencial de impacto e viabilidade para a organização. Em setores regulados como energia e saúde, é preciso verificar a aderência e conformidade com a regulação, além das questões tradicionais de segurança.
- 4° passo: Será preciso selecionar métodos e modelos adequados a cada projeto. Não devemos negligenciar a etapa de coleta e limpeza de dados. Além disso, devemos testar e depois treinar para melhorar a assertividade do modelo.
- 5° passo: Etapa de monitoramento e avaliação. É preciso acompanhar o desempenho das soluções de IA e medir o seu impacto nos resultados da organização e se as soluções de IA estão atendendo aos objetivos definidos no planejamento e se estão gerando valor. Não se pode esquecer de sempre revisitar os modelos conforme as atualizações nos dados, caso contrário com o tempo eles irão perder assertividade e se tornar obsoletos.
Uma I.A para chamar de minha
Sobretudo, dentro os diversos métodos, técnicas e modelos disponíveis para utilizar a inteligência artificial, precisamos entender qual público iremos atender.
Importante na construção da solução da I.A é que nem tudo precisa utilizar toda tecnologia disponível. Por exemplo, se o seu projeto requer o uso de visão computacional para ler imagens, mas pode ser obtida por outras fontes como textos em documentos, é rápido e barato limitar ao processamento de linguagem natural e visão computacional.
Da mesma forma, aprendizado não-supervisionado pode ser útil para novas descobertas, mas se já há um resultado esperado bem definido a ser entregue e há pessoas e ferramentas para orientar a I.A, o aprendizado supervisionado tornará bem mais rápido a entrega dos resultados.
Produto de I.A interno
Do mesmo modo, para melhorar a eficiência nos processos, qualquer trabalho em que a atividade esteja altamente relacionada com a execução básica de padrões que necessita de alguma análise, está suscetível ao uso de I.A, tais como:
- Busca e coleta de informações;
- Comparação de informações (imagens, planilhas, textos etc.);
- Validação de informações em um Check-list.
Não havendo necessidade de análise, mas execução de tarefas simples e repetidas e de modo automático, um sistema de RPA (Robotics Process Automation) é suficiente, não necessitando de uma I.A.
Produto de I.A externo B2B
Existem várias inteligências artificiais poderosas e já consolidadas no mercado, como Watson, OpenA.I, Nest, Bert, etc. Nesse sentido, o mercado B2B se desenvolve no sentido da criação de plataformas de análises, chatbots, Saas em geral que utilizam da fonte das I.A mais robustas e consolidadas ligando da melhor forma possível as necessidades (inputs) dos clientes.
Entre os principais segmento de exploração de I.A podem citar:
- Segmento jurídico, produto de análise e sumarização de processos judiciais;
- Contabilidade, produto de compilação e análise de vários regulamentos locais como ICMS e outros tributos;
- Regulatório, produto de otimização de busca de fundamentos e conceitos em resoluções do BACEN, ANEEL, ANAC etc;
- Marketing, produto de segmentação de perfis e recomendação de serviços.
Produto externo B2C
Sempre que o produto tiver como consumidor final a pessoa física, a gama de complexidade aumenta exponencialmente, parte pelas proteções da LGPD, parte pelos dilemas éticos e manipulação algorítmica que pode haver nesses mercados.
Silvio Meira elenca 3 regras de boas práticas inspiradas nas leis da robótica de Asimov:
- A inteligência artificial deve proteger os dados pessoais;
- É preciso proteger as pessoas dos algoritmos;
- É preciso efetivar as regras 1 e 2 sem atrapalhar o futuro.
O futuro com I.A
A I.A como ferramenta corporativa tende a mudar radicalmente como é realizado a gestão nas grandes empresas.
Atividades de diagnóstico, análises e administração de processos repetitivos poderão ser delegados para a I.A que efetuará automaticamente o gerenciamento com parâmetros pré-estabelecidos ou aprenderá no caso de processos com certa volatilidade de decisões.
O gestor do futuro terá uma atividade preponderante de interventor para o que a I.A for incapaz de resolver e com foco na melhoria, do que monitorar resultados e controlar prazos.
Desta forma, saber utilizar a I.A será uma competência chave, não apenas na etapa de criação de novos produtos, mas também para administrar de forma mais eficiente e quase automática o portfólio desses produtos. Assim, as tarefas operacionais podem ser realizadas por bots de RPA, as tarefas de nível tático que sejam restritos a algum ambiente com regras rígidas, podem ser perfeitamente atribuídas à I.A, enquanto atividades de cunho estratégico, com visão global e transversal sobre vários assuntos, em ambientes com pouco padrões e alta flexibilidade e criatividade são para humanos.