Por Mateus Arruda, Innovation Specialist Leader na ACE Cortex
Em 2017, a corporação finlandesa de telecomunicações Nokia adquiriu a Navteq, empresa avaliada, à época, em US$ 8 bilhões. Com sensores instalados em rodovias de mais de 13 países, a Navteq dominava o mercado com o seu serviço de mapeamento e softwares de navegação. Embora monopolizasse o mercado, a empresa perderia a sua relevância perante o mercado. Você já deve imaginar o porquê: a chegada do Waze, utilizando o GPS instalado nos smartphones dos usuários, se tornou um dos aplicativos mais utilizados do mundo.
Podemos tirar três aprendizados dessa pequena história:
- Empresas precisam buscar ambidestria organizacional, isto é, focar além de seu core business, procurando novas formas de receita;
- As organizações devem estar um passo à frente e aprender a “matar o seu próprio negócio”;
- É necessário que existam estruturas que sustentem o desenvolvimento de novos negócios, além do core business.
Levando em consideração essa pequena história da Navteq, uma pergunta sempre aparece: como o mundo corporativo irá sobreviver à velocidade das mudanças do comportamento humano, da economia global e das tendências tecnológicas que surgem a cada segundo? Não existe uma resposta completa para essa questão, mas há alguns anos percebe-se uma nova mudança de holofotes das empresas no seu manual de inovação: o Corporate Venture Building (CVB).
No Corporate Venture Building, a empresa utiliza seus próprios recursos – financeiros e humanos – para criar novos negócios do zero. São organizações inteiramente novas – estamos falando de marca, CNPJ, time e receitas completamente apartadas da operação original – e criadas para preencher lacunas e oportunidades ainda não exploradas, seja em um novo segmento de mercado, clientes ou tecnologias emergentes.
Mas, criado o negócio, como iniciar o monitoramento dos resultados, validação da proposta de valor e crescimento? Um ponto é certeza: uma vez que a ideia saiu do papel, a operação precisa acontecer de maneira diferente do negócio principal, assim como as startups operam em modelos diferentes das grandes corporações.
Innovation Accounting
Para garantir sucesso em suas estratégias de inovação, as organizações precisam estruturar avenidas paralelas, como, por exemplo, comitês, departamentos ou programas de intraempreendedorismo que sejam capazes de gerar novas ideias de negócio com agilidade e eficiência. Entretanto, assim como o negócio principal, esses novos negócios criados necessitam de indicadores que sustentem e auxiliem qualquer tomada de decisão.
Para monitorar o desenvolvimento dos novos negócios – da ideia até a validação de mercado -, grandes empresas utilizam o que chamamos de “Innovation Accounting”, ou, em uma tradução livre, “Contabilidade da Inovação”. Essa metodologia utiliza indicadores e métricas específicas para projetos de inovação, desvinculando-se da necessidade de ter um retorno financeiro imediato – o que geralmente não acontece nessas iniciativas. O objetivo dessa filosofia é medir inovação, ou seja, refletir o progresso do processo de aprendizagem ao testar e validar ideias.
O Innovation Accounting se concentra no gerenciamento de três atividades de inovação:
- Tomar decisões de investimento em diferentes negócios e em diferentes momentos de sua jornada de inovação (stage gates);
- Acompanhar e medir o sucesso de projetos de inovação;
- Avaliar o impacto que a inovação está tendo no negócio como um todo.
Métricas de Acompanhamento
Uma vez estabelecido o processo de inovação dentro da organização, com teses bem definidas, time dedicado e modelo de gestão próprio, podemos dividir as métricas de acompanhamento em dois tipos de indicadores principais: de performance e de resultado.
Os indicadores de performance estão relacionados a operação de processo de inovação, ou seja, quão bem o time de inovação está no desenvolvimento das teses de novos negócios. Destacam-se aqui os seguintes indicadores:
- Distribuição de portfólio: as teses de inovação atendem a quais verticais? Quais novos mercados estão sendo explorados?;
- Distribuição de investimentos: Como a empresa divide e aloca os seus investimentos?;
- Análise dos stages gates: número de ideias por etapa, ideias que avançam, ideias que morrem;
Ao mesmo tempo, os indicadores de resultado mensuram o impacto dos negócios que são produzidos por estas esteiras de inovação. Alguns deles são:
- Análise de crescimento do novo negócio;
- Potencial de receita;
- Taxas de conversão no funil de vendas.
Indicadores de Resultado
Os indicadores de resultado são fundamentais para avaliar a eficiência dos projetos de inovação que estão sendo testados pela empresa. São eles que irão definir se o negócio tem ou não condições de avançar para escala, e assim, receber mais investimentos, sejam eles financeiros ou de time.
Como estamos falando de um novo negócio, é fundamental que o time não trabalhe com achismos ou conhecimentos empíricos. Nesse caso, é necessário uma imersão completa no contexto do projeto de novo negócio e o problema a ser resolvido por ele. Assim, é possível validar ou invalidar as hipóteses nas etapas primárias de construção de uma nova solução. Sendo assim, com dados e informações reais, o time deve provar que:
- Existe um problema que vale a pena ser resolvido;
- A sua solução resolve este problema;
- Seus potenciais clientes irão pagar por esta solução;
- A solução é escalável.
Existem três indicadores que podem apoiar o time a defender o potencial do seu novo negócio, principalmente no estágio inicial:
- CAC: o Custo de Aquisição de Clientes é um termômetro de avaliação se as estratégias de marketing estão funcionando. Ele mensura o quanto a empresa está investindo na sua etapa de conversão. A mensuração é muito simples: basta dividir o valor total de investimento em estratégia de marketing e ativação pelo número de novos clientes naquele período;
- LTV: o Lifetime Value mensura o quanto esse cliente é rentável para o seu negócio durante determinado período. Essa métrica permite que você identifique quais perfis de consumidores são mais rentáveis. A partir dessa definição, é possível direcionar a estratégia de aquisição para esse público. A relação CAC x LTV é um indicador fundamental nesse período. A recomendação é que, para um negócio saudável, o LTV deve ser no mínimo, três vezes maior que o custo de aquisição;
- Churn Rate: tão importante quanto atrair novos clientes é fundamental retê-los na base. O churn, ou índice de cancelamento, monitora a taxa de usuários que param de usar ou pagar pelo serviço. Manter essa taxa é estável é fundamental para o sucesso do negócio. Qualquer desvio nesse fator serve de insumo para ajustes nas estratégias de retenção da empresa.
Todos esses indicadores e respostas auxiliam a corporação a tomar decisões em seguir ou não investindo em seus novos negócios. Além disso, também podem sinalizar a necessidade do time de voltar em algumas etapas da concepção do negócio, “pivotando” ideias e reconstruindo soluções e funcionalidades. Lembrem-se que estamos falando de um processo de inovação, ou seja, um ambiente de extrema incerteza que necessita resiliência, foco e agilidade nas mudanças de rota.
Confira o nosso novo report
Embora muito se fale sobre M&As e Corporate Venture Capital (CVC), ainda há uma estratégia de inovação corporativa pouco citada no mundo dos negócios: o Corporate Venture Building (CVB). Essa tática permite que grandes corporações utilizem seu tamanho, recursos e expertise para a criação de novos negócios dentro de casa, sem ter de recorrer a aquisições ou investimentos institucionais.
Segundo levantamento exclusivo da consultoria de inovação corporativa ACE Cortex, aproximadamente 35% dos executivos brasileiros desconhecem esse conceito e sua aplicabilidade no atual contexto de mercado. Além disso, apenas 23,2% das empresas utilizam essa estratégia de inovação focada na construção de novos negócios de dentro para fora.
O report “Corporate Venture Building: Como Corporações Podem Criar Novos Negócios de Forma Ágil”, produzido e desenvolvido pela ACE Cortex, traz dados exclusivos sobre o panorama brasileiro de CVB, além de entrevistas em profundidade com gestores de inovação que aplicaram a estratégia de novos negócios em suas respectivas empresas. Clique aqui para realizar o download do material.
Quer mais conteúdo? Nós temos!
Se você ficou curioso para saber mais sobre o desafio de implementar uma estratégia de inovação na sua corporação, fique tranquilo porque a ACE Cortex tem mais conteúdo para você!
Os fundos corporativos de investimento focados em startups, também conhecidos como Corporate Venture Capital (CVC), nunca estiveram tão em alta. No Brasil, grandes corporação investiram mais de US$ 2,1 bilhões em startups. Entenda como implementar uma estatégia de CVC na sua empresa no nosso report exclusivo “Corporate Venture Capital: Como corporações e startups constroem juntas o futuro dos negócios”. Clique aqui para acessar a página de download do material.
Se o CVC parecer uma estratégia muito avançada para implementação na sua companhia, nós recomendamos que você leia o nosso report “Inovação Aberta: Acertos e Erros de Sete dos Principais Hubs de Inovação do Brasil”, que conta com entrevistas de sete executivos de alguns dos principais hubs de inovação do Brasil, assim como dicas para o desenvolvimento e execução de estratégias de Inovação Aberta. Clique aqui para acessar a página de download do material.
Ouça a série de podcast “Fator Inovação”:
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